A coruja e a águia
Coruja e águia, depois de muita briga resolveram fazer as pazes.
-Basta de guerra — disse a coruja.
— O mundo é grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
— Perfeitamente — respondeu a águia.
— Também eu não quero outra coisa.
— Nesse caso combinemos isso: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
— Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?
— Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
— Está feito! — concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
-Horríveis bichos! — disse ela. — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar contas com a rainha das aves.
—Quê? — disse esta admirada. — Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…
Moral da história: Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai. Já diz o ditado: quem ama o feio, bonito lhe parece.
Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Brasiliense, s/d, 20ª edição.
-.........
“Um camelo e seu dono (…) estavam viajando pelo deserto, quando surgiu um vendaval. O viajante mais que depressa armou a barraca e abrigou-se dentro dela, fechando as pontas para proteger-se da areia fina e cortante da violenta tempestade. O camelo, logicamente, ficou de fora, e à medida que o forte vento lhe arremessava a areia contra o corpo, olhos e narinas, ele achou a situação insuportável e por fim implorou ao dono que o deixasse entrar na barraca.
‘Há espaço apenas para mim’, disse o viajante.
‘Talvez eu possa abrigar apenas o nariz, de modo que não precise respirar o ar cheio de areia?’, pediu o camelo.
‘Bem, acho que não há problema’, replicou o viajante, e abriu uma das pontas pela qual logo entrou o nariz do animal. Quão confortável estava agora o camelo! Mas logo se cansou da areia cortante que lhe açoitava os olhos e ouvidos, e sentiu-se tentado a perguntar novamente:
‘A areia trazida pelo vento é como um ralo na minha cabeça. Será que eu poderia também abrigar a cabeça?’
E mais uma vez o viajante ponderou que aquiescer não lhe custaria qualquer dano, pois a cabeça do camelo ocuparia o espaço superior da barraca, que ele mesmo não estava usando. E assim o camelo abrigou a cabeça e ficou satisfeito outra vez—mas apenas por pouco tempo.
‘Somente a parte da frente do corpo’, implorou ele, e mais uma vez o viajante consentiu, e logo os ombros e as pernas do camelo estavam dentro da barraca. Finalmente, pelo mesmo processo de súplica e aquiescência, o dorso do camelo, as ancas e todo o restante do corpo estavam dentro da barraca. Então ficou muito apertado para os dois, e o animal jogou o viajante para fora, deixando-o à mercê do vento e da tempestade.”
Aplicação:
Más companhias, maus pensamentos, ir cedendo
aos bons princípios e valores certamente levará a um fim desagradável e de sofrimentos.
Coruja e águia, depois de muita briga resolveram fazer as pazes.
-Basta de guerra — disse a coruja.
— O mundo é grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
— Perfeitamente — respondeu a águia.
— Também eu não quero outra coisa.
— Nesse caso combinemos isso: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
— Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?
— Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
— Está feito! — concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
-Horríveis bichos! — disse ela. — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar contas com a rainha das aves.
—Quê? — disse esta admirada. — Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…
Moral da história: Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai. Já diz o ditado: quem ama o feio, bonito lhe parece.
Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Brasiliense, s/d, 20ª edição.
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“Um camelo e seu dono (…) estavam viajando pelo deserto, quando surgiu um vendaval. O viajante mais que depressa armou a barraca e abrigou-se dentro dela, fechando as pontas para proteger-se da areia fina e cortante da violenta tempestade. O camelo, logicamente, ficou de fora, e à medida que o forte vento lhe arremessava a areia contra o corpo, olhos e narinas, ele achou a situação insuportável e por fim implorou ao dono que o deixasse entrar na barraca.
‘Há espaço apenas para mim’, disse o viajante.
‘Talvez eu possa abrigar apenas o nariz, de modo que não precise respirar o ar cheio de areia?’, pediu o camelo.
‘Bem, acho que não há problema’, replicou o viajante, e abriu uma das pontas pela qual logo entrou o nariz do animal. Quão confortável estava agora o camelo! Mas logo se cansou da areia cortante que lhe açoitava os olhos e ouvidos, e sentiu-se tentado a perguntar novamente:
‘A areia trazida pelo vento é como um ralo na minha cabeça. Será que eu poderia também abrigar a cabeça?’
E mais uma vez o viajante ponderou que aquiescer não lhe custaria qualquer dano, pois a cabeça do camelo ocuparia o espaço superior da barraca, que ele mesmo não estava usando. E assim o camelo abrigou a cabeça e ficou satisfeito outra vez—mas apenas por pouco tempo.
‘Somente a parte da frente do corpo’, implorou ele, e mais uma vez o viajante consentiu, e logo os ombros e as pernas do camelo estavam dentro da barraca. Finalmente, pelo mesmo processo de súplica e aquiescência, o dorso do camelo, as ancas e todo o restante do corpo estavam dentro da barraca. Então ficou muito apertado para os dois, e o animal jogou o viajante para fora, deixando-o à mercê do vento e da tempestade.”
Aplicação:
Más companhias, maus pensamentos, ir cedendo
aos bons princípios e valores certamente levará a um fim desagradável e de sofrimentos.