R. C. Sproul Jr.
No País das Maravilhas, quando Alice chegou a uma encruzilhada, ela
olhou em volta procurando ajuda. Em uma árvore próxima estava um
sorriso. Apenas um sorriso. Porém, logo apareceu o corpo completo do
Gato de Cheshire. Alice perguntou ao gato que caminho ela deveria tomar.
O gato lhe perguntou para onde ela estava indo. Alice explicou a ele
que não tinha nenhum destino em particular, e então o gato disse
palavras de sabedoria: “Então não importa”.
Se não estamos indo para lugar nenhum, não existe caminho errado. Você
só pode se perder se você tem um destino. É por isso que a escatologia é
importante. Quando entendida corretamente, a escatologia, o estudo das
últimas coisas, é o estudo de para onde estamos indo.
O problema mais frequente é quando nos achamos caminhando numa estrada
sem saída, porque nos distraímos com as placas no caminho. Nós acabamos
discutindo sobre onde estamos ou onde quase estamos, e no fim das contas
perdemos de vista o real objetivo da história.
A Bíblia fala de um milênio. Ela o faz em meio a uma peça profundamente
difícil de literatura inerrante — a Revelação de João, o livro do
Apocalipse. E tudo o que a Bíblia ensina é compreensível. Deus não perde
o tempo dele ou o nosso nos contando coisas que são impossíveis para a
nossa compreensão. Então, há uma visão sã do milênio que é bíblica,
cognoscível e valiosa. Nós devemos buscar afirmar e compreender essa
visão.
O milênio, contudo, não é o fim, em nenhum sentido da palavra. Ele não é
a razão para todas as coisas; nem é a última de todas as coisas.
Portanto, ele não deveria nos dividir e separar profundamente.
Algumas visões declaram que estamos no meio do milênio, que esse termo
se refere ao tempo entre a ascensão de Cristo e o seu retorno. Algumas
visões afirmam que o mundo crescerá progressivamente em perversidade, e
então Jesus retornará para governar por mil anos. Outros ainda afirmam
que o mundo crescerá progressivamente em fidelidade à Palavra de Deus,
para que desfrutemos de uma era de ouro de mil anos antes da volta de
Jesus. De fato, são visões muito diferentes sobre o milênio.
Mas você notou o que cada uma dessas visões têm em comum? Qualquer
posição que alguém possa tomar, no final, todos concordamos em uma
coisa: Jesus vence. Quando a história chegar ao fim, todo joelho se
dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é Senhor. Quando a
história chegar ao fim, todos os seus inimigos terão sido colocados por
estrado dos seus pés. Quando a história chegar ao fim, não haverá mais
lágrimas, nem doença, nem morte. Quando a história acabar, aquilo que
agora somos chamados a buscar, o reino de Deus, será consumado. Aquilo
que buscamos será encontrado em toda a sua glória, em toda a sua
plenitude.
Há, contudo, mais um passo antes do fim, uma parte da história que
estamos acostumados a negligenciar. O fim real, o fim verdadeiro, não se
encontra nos capítulos finais de Apocalipse, mas na primeira carta de
Paulo à igreja em Corinto, capítulo 15. Lá nós lemos: “E, então, virá o
fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído
todo principado, bem como toda potestade e poder” (v. 24). O fim é
quando o Filho, após trazer todas as coisas sob a sua sujeição, entrega o
reino ao seu Pai. Então, o segundo Adão, tendo completado o chamado
dado ao primeiro Adão de encher e sujeitar a terra, entregará de volta
ao seu Pai a criação que havia sido colocada sob nossa mordomia.
Como podemos esquecer disso? Como a nossa história deixou de fora esse
grande clímax? O Filho devolve o reino ao Pai. Devemos chegar a
compreensão disso, pois é exatamente essa gloriosa verdade que inspira
os nossos trabalhos aqui e agora. O reino que primeiro buscamos é o
mesmo reino que o Filho devolve ao Pai. Nossos trabalhos no presente,
enquanto refletem e fluem do nosso comprometimento com o reino de
Cristo, não importa o que aconteça entre hoje e o fim, sobreviverão.
Nossa obra importa para a eternidade. Ou, como um sábio teólogo se
inclina a descrever, o agora conta para sempre.
Nossos esforços, nossos trabalhos em criar nossos filhos na educação e
admoestação do Senhor, em chamar os eleitos dos quatro cantos da terra,
de tomar o pó de Deus e moldá-lo em objetos, não é apenas buscar o
reino, mas manifestá-lo. Não é o que fazemos enquanto esperamos pelo
fim, nem o que fazemos para fazer acontecer a nossa visão favorita do
milênio. Mas o que fazemos para mover a história para o fim do fim, o
Filho devolvendo o reino ao Pai.
E isso, é claro, também é o princípio do princípio. A partir dali, nós
desfrutaremos do verdadeiro e eterno Monte Sião — na Nova Jerusalém — a
própria presença do Deus vivo. Nós participaremos da visão beatífica,
contemplando a sua glória. Nós conhecemos o fim, tanto o propósito
quanto o objetivo da história — Jesus vence para a glória de Deus. E
pela sua graça, ele nos leva com ele. Essa é a nossa razão de viver e a
nossa esperança ao morrer.
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